Tudo bem? Será que queremos saber mesmo?

 




Encontramos o conhecido em algum local inesperado e perguntamos: tudo bem?

Mas será que é uma pergunta verdadeira ou é uma daquelas mentiras sociais?

Ou uma pergunta retórica?

Será que queremos mesmo saber como está a vida da pessoa, o que ela tem feito, como tem vivido, trabalhado, como estão seus estudos, sua família? O que ela tem realizado de bom, ou se está atravessando fase de doenças com ela ou com familiares?

As pessoas têm uma enorme necessidade de serem ouvidas e, por outro lado, não param de falar! Nem mesmo se escutam, como vão escutar o outro? Com isso perdem a chance de serem ouvidas também. É um círculo horroroso.

Precisamos falar e não temos quem nos escute e consequentemente não escutamos nem ao outro e nem a nós mesmos.

No mesmo sentido, temos dificuldade em ouvir atentamente, ouvimos preparando a resposta. Esperando a nossa vez de falar.

Certa vez li um texto que dizia que deveríamos ouvir e repetir o que o outro falou, para ter certeza que ouvimos corretamente e a outra pessoa saber o que entendemos do que foi falado. Esse categoria de conversa é necessário, principalmente, entre casais, para ficar claro o que foi dito, qual a mensagem que o outro precisa passar para consolidar o entendimento.

 

Lembro de quando fiquei viúva e o que mais precisava era falar e cada vez que encontrava alguém, a pessoa, na melhor intenção, vinha consolar e falava, falava, falava e eu precisando falar, insistia e a pessoa retrucava, não fique assim e blá, blá, blá… Até que encontrei um amigo que só me abraçou e deixou que falasse, chorasse, falasse e chorasse, sem nexo nenhum. Ele permitiu que pudesse extravasar meus sentimentos. Obrigada.

 

Quando falo em voz alta o que me aflige, consigo raciocinar melhor ao me ouvir, consequentemente fica mais claro e a solução mais próxima. Por isso que psicólogos e terapeutas estimulam a pessoa a falar, para que elas se ouçam. Às vezes aquilo que acreditamos ser um problema, quando dito em voz alta, fica meio que sem sentido e se torna bem menor.

Estou tentando ficar mais atenta e quando pergunto. Tudo bem? Olho nos olhos da pessoa e espero ela responder. Conforme o olhar, pergunto de novo, se ela quiser responder, dou a chance de ela falar.

 

Concordo também que algumas pessoas são bem complicadas e quando perguntamos se está tudo bem ela desfiará um rosário contando todas as mazelas da vida dela, da família, do trabalho e outros. Mas, nesse caso é necessário saber cortar para não virar o “muro das lamentações”, é questão de usar o bom senso.

 

Por sua vez, há aquelas pessoas que se incomodam que não esteja tudo bem com você! — Como assim não está tudo bem com você? Você tem que estar bem, você tem isso, aquilo, aquilo outro, tem que ser agradecido e estar bem.

O “tem que estar” é uma droga. Como se a outra pessoa não tivesse o direito de não se sentir bem.

Às vezes, as pessoas precisam só de acolhimento, aceitação, saber que existe alguém com quem possa contar para ouvir, apenas ouvir. As pessoas quando precisam de opinião, pedem; quando precisam de conselhos, pedem; quando precisam de orientações, pedem também. Da mesma forma observar em nós essas nuances.

 

Concluindo, acredito que antes de falar a pergunta: “tudo bem?” para alguém poderíamos pensar qual a intenção da nossa pergunta e se, realmente, quisermos saber se está, deveríamos dar o tempo necessário para ela responder. E mais importante: ouvir a resposta com atenção e acolhimento.

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