Cidade turística, um “programa” eventual

 

                                                                                         Foto: arquivo pessoal

Esse texto surge a partir da reflexão provocada por uma troca de mensagens com um colega.

Ele relata, com tristeza, o crescimento da verticalização na cidade turística e lhe respondi que a boa parte da responsabilidade era deles, incentivadores do turismo. Afinal, se a cidade estava construindo mais prédios é para abrigar turistas em temporadas.

Fiquei pensando sobre isso... Tracei um paralelo, a cidade turística como a/o garota/o de programa.

Geralmente, quando a pessoa procura uma garota de programa, almeja a diversão, por um curto período, sem ligações, se compromete a pagar por isso e vai embora sem olhar para trás. Pode até retornar outras vezes, se gostou da diversão. Mas por um breve período. Se a garota deixar de ser atrativa, o “pagador” irá procurar outra que se adapte aos seus gostos e bolso.

Assim é o turista, ele encontra aquela cidade maravilhosa, que amigos, mídia, redes sociais, influenciadores digitais lhe sugeriram. Passa uma temporada, usa, abusa, paga por isso e vai embora, sem se questionar qual será o futuro da garota, quer dizer, da cidade. Não se importam com o lixo deixado, com o que será feito do seu esgoto. Poucos são os que constroem um relacionamento duradouro. É apenas uma paragem.

Alguns turistas criam laços, compram imóveis, vão mais amiúde, tal qual o moço que encontra a garota de programa assiduamente. Entretanto, crianças crescem, outros valores se impõem e os laços são desfeitos. Imóveis deixados para trás sem cuidado ou manutenção, tornando-se moradia para insetos, animais e plantas invasoras.

Outra categoria de turista é aquele que explora a cidade, compra o imóvel visando lucro. Inscrevem-no em plataformas de aluguel por temporada e procuram ganhar em cima disso. Quase uma cafetinagem... Enquanto a cidade é atrativa, ótimo. Depois? Bem, descarta-se!

Assim temos vários imóveis vazios durante a maior parte do tempo, aglomerações nas temporadas. Lixo e esgoto não tratados. Alto custo de vida impactando moradores.

Algumas pessoas defendem que o turismo é a fonte de renda e é necessário para a cidade turística e pergunto: E aquelas cidades que não tem atrativos turístico? Não sobrevivem? Não encontram meios de subsistência?

Voltemos a nosso paralelo, garotas/os de programa, jovens bonitas/os, bem arrumadas/os ganham dinheiro com os programas. As pessoas que não se encaixam nesse padrão, morrem? Somem? Não sobrevivem? Não há outros meios de ganhar dinheiro?

Penso que existam tantas alternativas, ainda mais atualmente. A belez



a é efêmera, a juventude também, assim é necessário que se construa renda sobre bases sólidas e permanentes e que não causem danos.

E o que considero mais grave, cidades turísticas, que vivem da exploração do turismo, com raras exceções, não promovem educação para os jovens, não incentivam condições para haver crescimento e permanência desses jovens na cidade. O dinheiro advindo do turismo é pouco para tanta gente, há uma debandada de jovens que vão procurar, em outras cidades, meios de subsistência e crescimento. Assim a cidade turística vai decaindo, infelizmente.

A falta de incentivo à educação é facilmente constatável pela ausência de universidades nessas cidades turísticas. Há a beleza, mas falta conteúdo.

É triste, porque vemos cidades lindas, sendo usadas, abusadas e descartadas por outra mais novinha, mais bonitinha que aparecer.

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