Como e porque aprendi a costurar

Quando era menina, há muito tempo, não tínhamos as facilidades que hoje as crianças dispõem. Eu tinha poucas bonecas. Minha mãe morreu quando eu tinha sete anos e eu fiquei em um orfanato por um ano. 
Tinha duas bonecas, colocava as duas em uma caixa de sapato e todos paninhos que tinha e dizia que eram roupas delas. Andava com essa caixa direto. No orfanato havia uma sala de costura para as meninas mais velhas aprenderem a costurar, eu sempre tentava ficar lá dentro, mas as professoras me expulsavam, diziam que era perigoso, que eu era muito pequena e bla, bla, bla... Sendo assim, eu e mais umas duas meninas nos esgueirávamos pelo chão, debaixo das mesas, procurando encontrar agulhas perdidas. Como era difícil, nos contentávamos com alfinetes de cabeça na qual amarrávamos as linhas para costurar. Linha era bem mais fácil, sempre tinha uns pedaços no chão. E no chão também conseguíamos retalhos de tecido ou as meninas mais velhas davam para nós. As roupinhas eram retângulos com dois buracos para entrar os braços e nada como um cinto para deixar no lugar. Após a saída do orfanato continuei as minhas brincadeiras, as histórias eram montadas a partir das roupas feitas. 

 Meu pai casou de novo, a minha segunda mãe era excelente cozinheira e ótima costureira, aprendi muito com ela. Quando ela casou com meu pai, nossa casa e nossa vida estavam bem bagunçadas e não tínhamos dinheiro. Mas tinha uma máquina de costura, daquelas antigas movidas a pedal. Ela era super criativa. Meu pai tinha ganhado uns ternos e camisas de clientes e ela não teve dúvida, desmontou as roupas e fez roupas para nós, bem no estilo “E o vento levou...”. Lembro de um vestido que ela fez para mim cinza escuro, nada infantil, mas fez uma camisa branca com mangas bufantes que ficava show por baixo do vestido. Eu devia ter uns 11, 12 anos. Das cortinas, fez colchas para as camas. 

Mais tarde, mudamos para São Paulo (morávamos na periferia) e fui estudar em uma escola que as aulas de artes eram aulas de costura simples, aprendi a pregar botão, casear, chulear, alinhavar, fazer uma barra com pé de galinha... Parei de brincar de boneca e parei com a costura. Anos depois, quase adulta, ela costurando, se aprimorando, sugeriu que eu aprendesse a costurar. E eu, metida, respondi: Aprender a costurar, para que? Para ser costureira? Não, não quero. Eu tinha planos, queria viajar, morar em outros lugares. E ela ainda retrucou, sabiamente, deveria aprender a costurar para fazer roupas para você mesma, já que tem dificuldades de encontrar o que você gosta no seu tamanho. 

Mais alguns anos se passaram, morando sozinha, comprei uma máquina de costura. Desmanchava as roupas que gostava e cortava outras por aquelas. As vezes dava certo, as vezes não. Sempre estive acima do peso, só que os seios eram pequenos e era acinturada, as roupas que serviam em cima, apertavam embaixo, outras ficavam um saco, tinha que fazer penses, ajustes para poder ficar legal. Assim sempre tinha que mexer. 

 Quando minha segunda mãe morreu, decidi que era hora de aprender a costurar mesmo. E fui aprender. Com a professora dela. E comecei a aceitar encomendas, estava desempregada e essa foi uma saída. Não é um trabalho fácil. Lidar com mulheres, prestar um serviço é estressante. As pessoas não costumam olhar quase nada quando compram em lojas, mas quando estão mandando fazer são extremamente exigentes. Tem que ficar perfeito no corpo, mesmo que o corpo não seja, rsrsrs. Mas foi uma boa alternativa para mim. 

A partir daí, a maioria das minhas roupas são feitas por mim. Vestidos, calças, saias, blusas. Fiz roupinhas de cachorrinhos, roupinhas de crianças, fantasias de princesa para minha sobrinha e agora depois de tanto tempo, fiz roupinhas de boneca para as bonecas da minha sobrinha.

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