A mala (quase) perdida

Viajei para a cidade de Socorro no final de junho. Foram cinco dias de ar puro, clima fresquinho e comida boa. Claro que engordei, como evitar? Difícil. Fui de ônibus, não tenho carro e prefiro ir de ônibus, posso ir lendo, vendo a paisagem, tranquila sem me preocupar com a estrada e direção de um veículo. Em outras ocasiões prefiro dirigir, a sensação de estar na estrada é prazerosa, libertadora. Depende do momento, da situação. Voltei em uma sexta feira a tarde, chegamos em São Paulo logo depois do almoço. Desço do ônibus e olho a volta, ainda nos degraus do veículo. Costume, cada vez que chego em algum lugar, olho em torno. Eis que vejo a minha mala passando perto da grade, puxada por uma mulher de blusa branca. Assusto, tenho um frio na barriga, a minha mala não é tão comum, ela é azul, bonita. Falo comigo mesma: “Silvia, não tem só a sua mala desse tipo, pode ser mera coincidência, você não vai pagar o mico de sair gritando na rodoviária: minha mala, neh” Aproximo-me do bagageiro, só há uma mala lá dentro e NÃO É a minha! Dou a etiqueta para o motorista que confere com a tal mala e ele fica me olhando com cara de UÉ. Moço, cadê a minha mala? Mato a xarada na hora, a mala que a mulher puxava era a minha, realmente! Peço aquela mala que está lá para tentar achar a dita cuja. Ele se recusa a dar e eu vou correndo atrás da mulher e da minha mala. Naquele tempo decorrido já imagino que nunca mais vou ver minha mala, avalio o que tinha dentro, penso no café que tinha comprado e no mel. Mas lamento mais pela mala, ela é relativamente nova, bem ajeitada, gosto tanto dela... Eu e o motorista saímos pela rodoviária e penso: se ela subiu as escadas, nunca mais vou ver minha mala... Eis que antes da escada rolante, cismo de olhar para trás. Meu anjo de guarda é muito bom! E ei-la! A mulher está em um canto, com a mão na botija, aliás, na mala. Olho para a mulher, imagino o meu olhar, aponto para a mala e falo: “Esta mala é minha!” A mulher, com a cara mais sonsa deste mundo, vira e responde: “Bem que achei que ela estava mais pesada...” Puxo a minha mala e mostro para ela a identificação. Está ali, bem bonitinho, nome, endereço, telefone. Falei que ia levar a mala dela para ver a identificação e encontra-la e ela responde com ironia até: Não tem identificação... Minha mala é azul, retangular, com quatro rodinhas. A mala dela era marrom, mais baixa, oval com duas rodinhas e estampada na frente, como ela poderia pegar enganada? Melhor nem questionar isso. O motorista só sabe falar para mim: “Ela disse que era dela.... ela disse que era dela...” Ahhhh meu senhor, quer dizer que o senhor acredita em qualquer um que se diz dono? Espero o coração voltar para o lugar dele de novo, engulo-o e vou para casa decidida, vou fazer uma capa para minha mala, daquelas bem cheguei mesmo, quero ver alguém querer levar daqui para a frente.

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