Arrumando gavetas

 




Assim que começou a pandemia e ficamos dentro de casa, pensei: excelente oportunidade para começar a colocar a casa em ordem.

Comecei pelas gavetas. São três na cozinha, quatro nas mesinhas da cama, duas grandes na cama e mais quatro pequenas na cama. Duas na mesa de trabalho e mais duas no gaveteiro do “escritório”. Total: 17 gavetas. Como a gente consegue juntar tanta bagunça em tão poucas gavetas?

Em um primeiro momento me preocupei em limpar e organizar e vai a primeira dica: não queira fazer tudo de uma só vez, levamos muito tempo acumulando tranqueiras, não é de uma hora para outro que vamos nos livrar delas.

Comece aos poucos, marque um tempo que se dedicará a cada uma, assim não vai perder tempo em ficar remoendo lembranças.

E é assim com tantas coisas na nossa vida, comece aos poucos, levamos muito tempo acumulando tralhas emocionais, como nos libertar de uma hora para outra?

Levamos mais tempo ainda formando nossos conceitos e pré-conceitos, como extermina-los de repente?

Levamos tempo demais acumulando ressentimentos, mágoas, visões distorcidas, dando importância para coisas que não tem importância alguma, acumulando hábitos nefastos, amizades tóxicas, conselhos inúteis, valorizando pessoas que não nos valorizam, que sequer se preocupam conosco, como desapegar disso tudo e arrumar as nossas gavetas mentais? Como desobstruir esses espaços, liberando-os para coisas que realmente importam?

Como começar? Começando. Escolha uma gaveta, tire tudo de dentro dela e coloque separado na sua frente e comece o processo de seleção, não pense: “o que vou jogar fora”, mas sim “o que eu quero guardar?” Escolha as coisas que realmente são importantes para você e faça a clássica pergunta Mary Kondo: “isso me traz alegria?” Se não lhe traz alegria, por que você vai conserva-la? Seja realista. Para que conservar algo que não lhe faz feliz? A nossa vida é muito curta e nossos espaços muito pequenos para ficarmos entulhando-os com coisa que não nos fazem felizes.  

Assim é com as gavetas, pegue cada peça que está guardada ali e tente se lembrar quando foi a última vez que usou. Aquela frase “e se eu precisar...” Você precisou dela no último ano? E nos últimos cinco anos? E nos últimos dez anos? Tem certeza mesmo que pode precisar dela? Será que ela não pode ser mais útil para alguém nesse exato momento? Deixe a peça seguir seu caminho, exercer a sua função e não ficar entulhada na sua gaveta para caso precise... e talvez nunca precise...

Arrumar gavetas não é arrumar bagunça, é guardar somente aquilo que é necessário e desapegar do resto. Doe, jogue fora, mande consertar. Mas não ‘arrume bagunça” porque vai continuar sendo tralha, entulho, entrave, só que arrumado...

Assim são com nossas relações, nossas amizades, nossos sentimentos. Deixe-os... deixe-os seguir adiante, libere-os. Não tente prender aquilo que não lhe pertence, porque nada nessa vida nos pertence de fato. Estamos aqui de passagem e com data prevista de partida, podemos não saber quando iremos, mas que iremos, ahhh isso é certo, iremos sim. E na hora que formos embora, as pessoas que ficarem vão abrir nossas gavetas e fazer uma pergunta: “Por que será que ele/ela estava guardando isso?”. E talvez podemos imaginar qual será o destino que darão a nossa peça guardada...

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