"Senta na guia e espera", melhor conselho que recebi na vida




Sei, parece estranho, certo? Eu concordo. A primeira vista parece estranho, mas depois de reflexão apurada fica mais claro e faz todo sentido.

A frase foi dita para mim pela Magali, uma amizade que durou exatamente um ano. Ela entrou e saiu da minha vida nesse tempo e foi muito proveitoso.

Em 2016 eu fui passar uns dias em um hotel fazenda na cidade de Areado - MG. O local ficava em área rural, de um lado havia um belo cafezal, do outro lado vacas leiteiras confinadas e uma plantação de milho do outro lado. Distante uns 15 quilômetros da cidade. Resumindo, o local era bem tranquilo, para descansar mesmo.

Estava na recepção perguntando o que poderia ser feito por ali e reparei em umas mulheres que estavam ali também pegando um número de telefone para agendar um passeio de lancha na represa de Furnas, para conhecer os cânions de Capitólio. Conversamos sobre o passeio e uma delas, a Magali perguntou se eu não queria ir junto com elas. O passeio estava programado para o dia seguinte, elas estavam em quatro mulheres e cabia mais uma no carro. Topei.

Não as conhecia, mas o que poderia acontecer? Vamos passear!

No dia seguinte saímos cedo, fomos até um restaurante na estrada MG 050, no qual os donos alugam lanchas para o passeio na represa.

O dia estava lindo, era inverno, a água estava fria e fomos passear. Foi maravilhoso. Lindas cachoeiras, grandes cânions, pássaros aos montes. Essa narrativa, com fotos fica para outra vez, hoje falarei do conselho...

Terminado o passeio voltamos e paramos em uma cidade próxima para almoçar e olhar tapeçarias. A cidade inteira, Carmo do Rio Claro – MG vive em função da tapeçaria e do artesanato. Imaginem essas mulheres fazendo compras... Menos a Magali, ela só olhava, me puxava do lado e falava deixa elas...

Vamos recapitular, essas quatro mulheres viajavam juntas em um carro, um sedan, já tinha a bagagem das quatro, e as três fazendo compras e mais compras, e tentando colocar aquilo tudo no porta mala. Até quando uma delas quis comprar um banquinho de madeira, aí a Magali interferiu e não deixou.

Próxima parada, Areado – MG, cidade dos queijos, doces e essas três mulheres comprando, Magali só olhando. Foi quando foram arrumar as coisas no porta mala, fui para ajudar e a Magali falou: vem cá, “senta aqui na guia e espera”. Tentei argumentar que ia ajudar para acabar logo e ela retrucou: Se você for, vai se irritar, vai se desgastar à toa, deixa elas se entenderem. Aprenda uma coisa, na maioria das vezes é melhor sentar na guia e aguardar que as situações se acomodam por si só.

Achei a colocação dela meio que omissiva, ora, se eu podia ajudar, por que não fazer isso? Mas ficamos as duas ali, sentadas na guia esperando as três se entenderem. E elas se entenderam e conseguiram arrumar o porta malas.

A convivência com a Magali foi pequena, ela morava em Santos – SP e eu em São Paulo - SP. Tivemos chances de nos ver em outras poucas ocasiões, uma delas fui na casa da irmã dela passar o feriado da Independência, depois fui passar um dia de Natal antecipado, no começo de dezembro, voltei na passagem do ano. Depois disso fui visita-la no hospital em abril de 2017, um ano depois de termos no conhecido, o câncer tinha retornado e ela foi embora no mês de julho desse mesmo ano.

Eu tenho a tendencia de tomar a frente das situações, procuro me antecipar e tentar resolver os problemas e lembro da Magali: senta e espera... 

E uma outra pessoa, que foi meu chefe por um tempo, falava a mesma coisa com outras palavras, ele dizia que se a pessoa tenta se antecipar, as outras se acomodam e os problemas sobram para aquele que se antecipou, e as vezes a situação apresentada não diz respeito a ele.

E tive uma terapeuta que falava algo no mesmo contexto, ela falava quando eu fosse responder, me comprometendo a algo, que não agisse impulsivamente, antes bebesse um copo de água, fosse até o banheiro, lavasse o rosto. Para dar tempo ao cérebro de se ajustar.  

E é interessante que quando sentamos e aguardamos as situações se acomodam quase que sozinhas, vamos vendo as coisas com mais clareza, deixamos as pessoas pegarem a parte que lhes cabe, e, caso, ainda seja necessário, interferimos.

Não é fácil, muitas vezes quando percebo já me adiantei e tomei a frente. Mas observo que a atitude de sentar e aguardar é a melhor, com certeza. 






 

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